Detalhes do projeto
<p class=”p1″>A crescente presença da interação digital nas nossas vidas diárias torna-se cada vez mais evidente. O confinamento provocado pelos anos de pandemia destacou como as tecnologias digitais mediam as nossas relações e levantou questões sobre a importância da presença física.</p>
<p class=”p1″>No contexto da interação digital, as relações humanas perdem o sentido de corporeidade que advém do toque, das experiências espaciais partilhadas e de uma perceção vívida do movimento. Contudo, como argumenta Susan Kozel [1], o ato de partilhar os nossos corpos através de dispositivos digitais promove a exploração colaborativa de novos estados físicos, níveis de consciência e até de ética. Muitos artistas e académicos têm abordado esta questão sob várias perspetivas, mas, à medida que as interações digitais se tornam mais prevalentes, acreditamos que, longe de ser um tema esgotado, estudos analíticos e críticos adicionais são urgentemente necessários.</p>
<p class=”p1″>Uma das tecnologias que facilitam a interação digital é a Realidade Virtual (RV), onde o nosso corpo físico pode interagir com corpos virtuais num ambiente tridimensional imersivo, e os headsets substituem os estímulos externos por imagens geradas por computador, criando uma sensação de presença noutra realidade. Embora a RV esteja no mercado há cerca de quatro décadas, só recentemente amadureceu como tecnologia de performance. A RV explora novos modos de interação corporal, oferecendo inúmeras possibilidades ainda por explorar. No entanto, a interação com um corpo virtual carece das qualidades materiais e vibrantes inerentes a um corpo físico, como peso, temperatura, toque, respiração, etc. Isto sugere um novo paradigma relacional, onde o nosso corpo material interage com entidades imateriais, exigindo uma perspetiva renovada sobre a análise do movimento. Assim, surge uma questão central a explorar: Como é que a nossa perceção de corporeidade muda quando estamos imersos num ambiente de RV? Que implicações terá este modo alterado de corporeidade na nossa relação com o ambiente que nos rodeia?</p>
<p class=”p1″>A dança contemporânea explora uma infinidade de movimentos, abrangendo não só os movimentos tradicionais da dança, mas também gestos do quotidiano, desportos, emoções, animais, entre outros. Analisar estas potencialidades ilimitadas do movimento na dança sempre foi uma tarefa desafiadora. A Análise do Movimento de Laban (AML), criada por Rudolf Laban e posteriormente desenvolvida por Irmgard Bartenieff, é o sistema mais reconhecido e amplamente utilizado para análise do movimento na dança. Contudo, este sistema não considera uma relação virtual onde um dos dançarinos é um corpo imaterial. Como é que um dançarino físico percebe peso, esforço, tempo e espaço ao interagir com um corpo virtual? Como é que o dançarino experiencia a sua própria cinesfera, o sentido de toque e a materialidade do corpo quando a forma do seu próprio corpo pode ser invadida por uma entidade imaterial em movimento? A relação interativa de um corpo físico com um corpo de RV desafia a análise tradicional do movimento concebida por Laban.</p>
<p class=”p1″>O objetivo do projeto <b>Ghost Dance</b> é explorar a perceção incorporada dos dançarinos quando interagem com corpos virtuais e contribuir para o pensamento crítico dentro deste novo paradigma de relações não físicas. Especificamente, realizaremos um estudo fenomenológico e computacional da análise do movimento com base no sistema AML, contrastando relações de movimento envolvendo duetos de dançarinos de carne e osso com aquelas envolvendo um corpo virtual.</p>
<p class=”p1″>Os resultados do projeto estão previstos em quatro principais linhas:</p>
<p class=”p3″>1.Uma performance-conferência que integra a realidade física com a RV, a ser apresentada em plataformas artísticas e académicas;</p>
<p class=”p3″>2.Um repositório em formato de website;</p>
<p class=”p3″>3.Artigos académicos em revistas e conferências de renome;</p>
<p class=”p3″>4.Desenvolvimento de um protótipo de software para análise de movimento em RV capaz de integrar o sistema AML, o que levará ao estabelecimento de diretrizes para futuras implementações.</p>
<p class=”p1″>Ao examinar criticamente a experiência das relações (des)corporificadas, acreditamos que este projeto fará uma contribuição significativa não apenas para as áreas das artes performativas e da RV, mas também para o debate mais amplo sobre inteligência artificial.</p>
Detalhes do projeto
Client
Universidade Lusófona
Skills
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